LÊDA GURGEL PIRES
( BRASIL - RIO DE JANEIRO )
O que mais impressiona na poesia de Lêda Gurgel Pires é que ela tem de dar ao amargo cotidiano, através de palavras simples e bem colocadas, um toque épico. Sua poética não é introspectiva, nem se perde na consideração de problemas pessoais.
José Louzeiro - Presidente do Sindicato de Escritores do
Rio de Janeiro.
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PIRES, Lêda Gurgel. Catarse. Apresentação: José Louzeiro. Ilustrações: Eloisa Gurgel Pires. Montagem e coordenação gráfica: Renato dos Reis. Rio de
Janeiro: 1985. 29 p. No. 09 819
Exemplar da biblioteca de Antonio Miranda
CATARSE
Para os compadres Hélio e Rosário
Como bolhas de sabão
retalhos de memória
se esboroam no ar
e morrem com nasceram:
num sopro de fantasia.
Como bolhas de sabão
lembranças indestrutíveis
se desfazem
pelo desgaste do tempo
na inutilidade da vida.
A lágrima da saudade
— sentida, morna e amarga —
é o pedaço da carne,
da pedra,
da terra dura e distante
que num ato de amor
deixou-se penetrar de raízes
e concebeu (gostosamente)
o fruto proibido da vida.
E o fez indiferente
e irresponsável.
Parido o sonho,
rasgada a terra — violentamente
veste-se a utopia:
de barro e fogo,
de luz e sombra,
de água e areia.
E crescem as folhas
verdes e ardentes.
As flores são puras —
belas e dóceis
mas se desmancham em libido
desfazendo-se em pó
trêmulas de gozo e orgasmo.
Como bolhas de sabão
a vida de barro
dura: possuída de terra
e raízes
de repente se derrete
em espuma
— de óvulos e de espermas
que se espalham alegremente no ar.
Porém, levianamente
o fazem, com ironia
desrespeitosamente, no céu,
livres (finalmente livres)
do elemento gerador.
E os sonhos coloridos
retidos em frágeis prisões
explodem, com delírio, no infinitos,
como bolhas de sabão.
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Página publicada em julho de 2025.
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